As cicatrizes

Ás vezes um procedimento cirúrgico é necessário. O corte realizado, além da cicatriz visível, deixa marcas profundas, que as pessoas desconhecem e que tão pouco as relacionam com a antiga cirurgia, por vezes, feita há anos atrás.

Uma cirurgia implica num corte, de relativa profundidade e que atinge várias camadas de tecidos. Acarreta descontinuidade das fibras musculares da região, havendo a necessidade de sutura e, consequentemente, prejudicando a regeneração do tecido muscular, o que leva à formação de cicatrizes. Fisiologicamente, essas se dão pela substituição do tecido lesionado por tecido conjuntivo fibroso provocando redução da elasticidade e, possivelmente, a formação de aderências. Por exemplo, a episiotomia, que é o corte feito na região do períneo para ampliar o canal de parto, atinge as fáscias e os músculos envolvidos podem ter a contratilidade de suas fibras prejudicada. 1

A sutura (costura) constitui numa agressão direta ao corpo, induz lesão e stress em todos os tecidos abrangidos: pele, fáscia, tecido subcutâneo, gordura, músculos e órgão. De todos estes, a fáscia, é o tecido que é contínuo por todo o corpo e se liga a todos os outros tecidos, sendo portanto, o que provoca as maiores alterações, as quais surgem por vezes, só alguns anos após a cirurgia e em zonas à distância.

A cicatriz pode acarretar alterações em todo o corpo como alterações posturais, digestivas ou intestinais, do sono; até afetar o estado mais ansioso ou mais abatido (pela memória e tensão fascial) e pode gerar restrições de mobilidade justamente por causa da fáscia, pois a cicatriz gera uma retração na área do antigo corte ou machucado.

E o que isso tudo tem haver com assoalho pélvico? Quando nos preocupamos com saúde perineal, realizar uma avaliação completa da região abdominal, perineal e observar a presença de cicatrizes é fundamental. Um olhar mais abrangente e ouvir todo o nosso corpo é a melhor maneira de buscar por respostas e entender seus problemas.

1 A cicatriz e sua consequência invisível. Julho, 2016.

Publicado por

Marilia Cavalli de Oliveira

Fisioterapeuta formada pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), atuando na área de Uroginecologia desde 2011.

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